CADERNO DE OBSERVAÇÕES SOBRE O CENÁRIO
ATUAL E PERSPECTIVAS PARA O PÓS-PANDEMIA

 

REFLEXÕES

propostas para futuros possíveis
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Diante dos dias atuais, nós da LDA inquietos que somos, decidimos propor um diálogo direto com quem tenha interesse de redesenhar e construir novos cenários para o presente que se impõem.

São em momentos como estes, onde a realidade exige uma nova postura, que os valores humanos são postos a prova e acabam por redefinir novos modelos e programas arquitetônicos para abrigar as ações humanas. No passado outras pandemias e pragas já foram responsáveis por mudanças de comportamento e de espaços para abrigá-los. A cidade renascentista é um ótimo exemplo disto e não deixa dúvidas, de quão marcante possam ser as mudanças a partir do enfrentamento da perda em massa de vidas.

Nós seres humanos somos capazes de adaptarmos visando nossa sobrevivência, foi assim no passado e é assim que se coloca no presente.

Vivemos hoje uma economia globalizada, nunca tivemos tanto acesso ao mundo como hoje.Culturas, antigamente distantes, se tornaram próximas e fáceis de serem experimentadas. Através de viagens, textos ou mesmo mercadorias, nosso universo ficou mais amplo enquanto nosso mundo menor.

Novas tecnologias criaram um mundo mais imediatista. Temos fome, pedimos comidas por aplicativos e em menos de 30 minutos, isso é materializado na porta de nossas casas. Não importa a culinária, o restaurante ou mesmo o chef, nós podemos experimentar de tudo.

O Varejo digital já vinha ganhando relevância, mas ainda, muitos de nossos preconceitos com as novas tecnologias ainda criavam barreiras para usá-lo. Acordamos em um mundo onde o isolamento nos colocou a necessidade de usá-lo e agora, como se a caixa de pandora fosse aberta, passamos a descobrir um mundo de novos canais para o consumo.

Como serão nossas relações com o varejo, seja no supermercado, na loja de departamentos ou mesmo nos Shoppings, abrem um universo de dúvidas e possibilidades que nós estamos ávidos a descobrir e conversar de como podemos redesenhar essas jornadas e experiências, bem como nossos espaços. Como arquitetos e criativos estamos nos colocando abertos a explorar estes novos territórios, toda mudança de valores recria ou transforma éticas exigindo simultaneamente mudanças estéticas capazes de construir um novo mundo em dias melhores.

Dividimos este material em duas etapas:

– Enxergar o presente como se coloca, e para isto elencamos 10 fatos e como eles agem sobre o varejo de modo geral, sobre a alimentação e sobre o entretenimento.

– Propor com o intuito de abrir novos horizontes.Seguros que não estamos procurando apenas respostas certas. Primeiro porque em um mundo complexo não existem respostas únicas, mas sim verdades variadas e ainda assim possíveis, depois porque também muitas vezes o maior perigo é responder corretamente uma pergunta errada, por isso queremos cocriar esses futuros possíveis pensando em quais são as perguntas corretas para vislumbrar possíveis alternativas para um mundo mais equilibrado e confiável.

// HIGIENE

A crise da saúde pública é definida por alguns pesquisadores como um reset, uma espécie de divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas no comportamento das pessoas. “Uma crise como essa pode mudar valores”. Teremos que nos preocupar com segurança da higiene, os consumidores deverão frequentar locais seguros.

As lojas físicas deverão se reinventar para sobreviver na pós pandemia. Deverão garantir segurança, higiene e bem estar aos funcionários e clientes.

// FLEXIBILIDADE DE TRABALHO

O equilíbrio entre a carreira profissional e a vida pessoal é um desejo cada vez mais valorizado pelos profissionais que buscam melhor qualidade de vida. Colaboradores satisfeitos com suas funções e com sua rotina de trabalho tendem a se dedicar mais às suas atividades e aumentar sua produtividade. Diante desta pandemia a flexibilidade de horários tornou-se uma alternativa muito valiosa para conciliar satisfação e ganho de produtividade, tornando-se uma equação rentável para ambas as partes.

//  MEDO DE AGLOMERAÇÕES

Quando as pessoas voltarem a frequentar espaços públicos, depois do fim das restrições as empresas devem investir em estratégias para engajar os consumidores de modo profundo, criando locais que tragam a eles a sensação de bem estar e segurança. E esperado que tenha um tempo de readequação das pessoas aos espaços onde acumulam concentração delas. Bares, restaurantes, cafeterias, praças de alimentação, espaços kids, academias e coworkings, devem redesenhar seus espaços para reduzir a aglomeração.

//  CONSUMO ESSENCIAL E CONSCIENTE

Em todo o mundo, os consumidores, impactados ou pessimistas com relação à economia, planejam reduzir os gastos de curto e médio prazo, especialmente em categorias não essenciais, devido ao prejuízo na situação financeira. A mudança de “inovador e moderno” para “testado e comprovado” fara sentido para muitos consumidores. Haverá uma mudança nos hábitos de consumo com a possibilidade do consumo consciente diante da nova realidade. As pessoas devem rever sua relação com o consumo, reforçando o movimento: “Consumir por consumir saiu de ‘moda’”.

// MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Ampliaremos o espaçamento entre as pessoas, porém as experiências que nos emocionam, que tocam nossos sentimentos sempre farão parte das nossas vidas e o desafio é como deixar esse distanciamento entre as pessoas impactar o mínimo possível nas relações humanas.

// MIGRAÇÃO DE ENTRETENIMENTO

Por lidar com aglomerações e espaços físicos, o futuro do setor de entretenimento e cultura está cercado de incertezas. Sabemos que houve uma mudança de prioridade no uso do tempo: aumento massivo das mídias sociais, prática de cozinhar, hábitos de limpeza e manutenção da casa, aprendizado à distância, socialização e atividades físicas a distância. Devemos analisar como a gente escolhe e consome para reinventar.

// READEQUAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO

A história já nos mostrou o quão drástico pode ser um efeito que uma doença pode ter no design espacial.

Essa readequação busca melhor atendimento e segurança para todos os clientes e funcionários. Além disso, os varejistas físicos estão tendo que aceitar que sua base de clientes está passando por um curso intensivo sobre como atender a todas as suas necessidades de consumo por meio de canais digitais.

// REFORÇO IMEDIATO OHMNICHANNEL

Omnichannel trata-se de estratégia das marcas em que todos os canais de comunicação de uma empresa estão conectados, com o objetivo de estreitar as relações online e offline.

Em uma futura compra o atendimento e histórico não são perdidos, são repassados, dando continuidade ao pedido e fazendo com que o cliente não sinta interrupções ou precise estar se reexplicando ao mudar de canal. Esses canais foram aprimorados para facilitar e melhorar a experiência de compra.

// ACEITAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS

Com a crise causada pela Covid-19, o que seria normalmente um processo mais lento – avaliar o que precisa mudar, checar alternativas, implementar de forma paliativa as alterações de processo, tudo isso entrou em aceleração por causa da pandemia. E agora inovar virou questão de sobrevivência. Além disso, as necessidades provocadas pelo novo coronavírus impulsionaram o descobrimento e a adesão a tecnologias, até então, distantes do cotidiano.

// NOVA CONSCIÊNCIA EM RELAÇÃO A SAÚDE

Essa pandemia é um alerta para a humanidade repensar o seu estilo e suas prioridades de vida, para assim, poder promover a autotransformação e conversão no sentido de se reconectar mais profundamente com valores e condutas que possam trazer o bem-estar para todos os seres. A intensificação da consciência em relação a saúde deve incentivar hábitos mais saudáveis e a prática constante de atividades físicas que favorecem corpo e mente.

// ENTRETENIMENTO VIRTUAL

A impossibilidade de utilizarmos espaços físicos em conjunto com outras pessoas, prática comum do mercado de entretenimento, concretiza a verdadeira ascensão de sua versão virtual. Sendo assim, teremos a realidade aumentada ou realidade virtual e opções holográficas para mergulharmos nessas viagens, passeios e jogos em 3D, os quais poderemos inserir em espaços ociosos desses empreendimentos.

// SUSTENTABILIDADE

A transformação dos espaços e o cultivo dos alimentos poderá trazer às coberturas dos empreendimentos novas opções de ocupações. Novas formas de reutilização dos materiais e incentivos a reciclagem através de pontuação e trocas podem ajudar a fidelizar esses clientes. Diferentes maneiras de captação de energia e preocupações com o meio ambiente devem traduzir valores importantes para seus usuários. Embalagens biodegradáveis devem ser consideradas em toda a sua extensão.

// CONFORTO AMBIENTAL

Maior ventilação natural e elementos arquitetônicos que favoreçam a iluminação natural nos espaços em geral são medidas que poderão ajudar no bem estar dos usuários. Ampliação de espaços vazios, pátios e átrios, bem como o repertório de diversos tipos de soluções arquitetônicas facilitarão a ocupação dos espaços por usuários mais seguros e confiantes. Neste momento a utilização da natureza pode auxiliar na melhor configuração destes espaços.

// LAYOUT DOS ESPAÇOS

Disponibilização em massa de álcool em gel e presença de lavatórios em todas as praças de alimentação, deverão ser medidas primárias a serem adotadas na reabertura dos empreendimentos. Distanciamento das mesas e redução dos lugares também deverão ser considerados, bem como preocupação excessiva em relação a higiene dos espaços.

// SEGURANÇA DOS STAKEHOLDERS

Devemos nos preocupar em higienizar os espaços comerciais, os consumidores deverão frequentar locais seguros, que transpareçam preocupação em relação a limpeza dos espaços e saúde dos seus usuários. As entradas e saídas dos empreendimentos deverão ser reduzidas e se possível deverão conter máquinas de desinfecção. Também deverão ser considerados: redução no contato direto entre funcionário e cliente, automação dos serviços e implementação de divisórias de proteção.

// DISPOSITIVOS TECNOLOGICOS

A tecnologia deverá ser o mais novo aliado. Materiais de mobiliário que permitam a autolimpeza, cabines de desinfecção ao longo do empreendimento, portas e equipamentos com mapeamento automático de temperatura dos visitantes e sistema de aspiração de bactérias sedimentadas no piso deverão ser medidas adotadas. Considerar também métodos digitais para pagamentos e priorizar a segurança e o bem estar dos usuários.

// INOVAÇÕES OPERACIONAIS

Shoppings móveis, foodtrucks e feiras livres podem ser opções para esse período de transição. Drive-Thru e agendamento de visitas as lojas podem significar segurança e bem estar. Embalagens descartáveis e recicláveis, substituição de modelos de restaurantes self-services por alimentos fracionados também podem ajudar neste processo. Espaços ociosos transformados em estúdios conectados e acessíveis a todos e a todas as redes sociais podem trazer ao varejo opções de entretenimento.

Entendemos que toda mudança nos traz medo. Tudo que é desconhecido e tira-nos da nossa zona de conforto nos deixa inseguros. Mas entendemos também da importância de cocriarmos com todos os nossos stakeholders e chegarmos a um produto onde as experiencias humanas são valorizadas e nos guiam para estabelecer um produto final compatível com os valores pré-estabelecidos.

Nesse período onde convivemos com medo e insegurança, torna-se importante acreditarmos em um mundo melhor onde a caridade, a fé e a esperança aliados a esses valores possam sobrepor ao individualismo. Valores e princípios que agregam solidariedade, otimismo, coragem e força para emergir transformações capazes de explorar nossas competências mais profundas, criando e proporcionando diversos recursos para espaços criativos e diferenciados.

Coletivamente, pensamos e realizamos melhor. Nós, da LDA, acreditamos que a arquitetura, desde que cocriada, torna-se uma ferramenta vital para mudanças importantes de bem estar e segurança do ser humano.