Os melhores materiais para fazer suas maquetes de estudo

por Matheus Pereira

Durante o desenvolvimento projetual em Arquitetura, estudantes e profissionais adotam uma série de metodologias como experimentação às soluções do objeto arquitetônico a ser materializado. Um suporte importante de muitas dessas metodologias é modelo físico que, do ponto de vista projetual, tem por objetivos simular relações espaciais considerando volumes e planos dispostos no desenho, entender setorizações e ainda ensaiar sistemas construtivos.

A partir da ideia de que apenas desenhos bidimensionais por si só não são capazes de mostrar todas as relações das soluções adotadas, as maquetes são estratégias essenciais na concepção do projeto, os rápidos ensaios confinam experiências que permitem compreender tridimensionalmente o relacionamento entre objeto e território.
 

 
Como etapa crucial do processo criativo, entendimento volumétrico e de todo o sistema construtivo, são muitos os exemplos práticos que poderíamos citar. Pense nas obras de Antoni Gaudí, as mesmas não seriam passíveis de execução caso tivesse em mãos apenas desenhos bidimensionais (plantas, cortes e vistas), mas, junto aos modelos físicos, estes atuam como norteadores da posterior etapa construtiva.
 

 
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em sua aula editada para o livro “Maquetes de Papel”, entende a maquete como suporte processual e não de representação do projeto finalizado:
 

“É a maquete como croquis… A maquete que você faz como um ensaio daquilo que está imaginando…Como o poeta quando rabisca, quando toma nota…A maquete aqui é um instrumento que faz parte do processo de trabalho; são pequenos modelos simples.” (p. 22)
 

 
Tendo em vista as dúvidas que surgem durante a elaboração de maquetes, desde o planejamento até a concepção, pontuamos abaixo algumas dicas fundamentais a partir de materialidades simples e de fácil acesso. Veja:
 

MAQUETES DE PAPEL

Papel Sulfite
 

Papel Sulfite

Finalidade: Estudos Volumétricos e de superfícies

Porque utilizar: Pelo baixo custo e acessibilidade este material apresenta-se como o melhor e mais adequado para rápidos ensaios volumétricos ou do desenho de planícies projetuais. Com uma tesoura em mãos e algumas fitas (durex ou fita crepe) você certamente conseguirá experimentar uma série de soluções do ponto de vista plástico, com rapidez e facilidade.

Outra característica a ser considerada diz respeito à baixa gramatura do papel e consequentemente, melhor maleabilidade, que permite retorções, curvas e inclinações sem stress. Para estudos de dobraduras o material também estabelece boas condições.
 
Papel Cartão
 

Papel cartão

Finalidade: Estudos Volumétricos e de superfícies.

Porque utilizar: Esta materialidade se comparada a anterior apresenta maior gramatura e rigidez, portanto, é frequentemente utilizada para a experimentação volumétrica de objetos arquitetônicos com formas sem grandes curvas tridmensionalizadas a partir de planícies. Mas, vale pontuar que em alguns casos, superfícies com cortes curvos e presas umas às outras pelas arestas são viabilizadas.

Pela variedade de cores, também apresentam excelentes propriedade para modelos físicos de setorização. Ou seja, a partir de uma base de cor neutra (terreno) torna-se possível a concepção de uma parcela do tecido urbano (conjunto de lotes ou quadra) utilizando uma cartela de cores pré-estabelecida para indicação dos diferentes usos e programas no solo, permitindo melhor compreensão da divisão espacial programática da área trabalhada a partir dos usos dos edifícios.
 

Screenshot do documentário “Sketches of Frank Gehry”

A materialidade também permite a concepção de modelos físicos para estudos de insolação. Nesse sentido, a partir da concepção de modelo de determinada área (quadra, lote, etc.) em cores neutras – branco de preferência – torna-se possível a compreensão do desenho das sombras pelo espaço por simulação em heliodon ou com o auxílio de materiais cotidianos, como lanterna, por exemplo.

O arquiteto Frank Gehry é adepto da materialidade. Para aqueles que observam sua assinatura projetual, demarcada por formas fluídas, planícies retorcidas e curvas, não imaginava que com simples pedaços de papel cartão e algumas tiras de fita, os ensaios iniciais das sobras nasciam com dada espontaneidade até a publicação do documentário, Sketches of Frank Gehry (2005), com direção de Sydney Pollack.
 

 
Papel Duplex e Triplex


 
Finalidade: Estudo volumétrico

Porque utilizar: Assim como a materialidade apresentada anteriormente, este papel apresenta maior gramatura e resistência. A diferença entre as nomenclaturas duplex e triplex diz respeito à quantidade de camadas que cada um recebe, apresentando maior ou menor espessura. Monocromáticos, são muito utilizados para o desenvolvimento de maquetes volumétricas para análise projetual de maneira integral nas instancias iniciais, tais como isolação, relação do edifício junto a suas adjacências, plástica, cheios e vazios, e aberturas.
 

River / SANAA

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha é adepto desta materialidade por sua simplicidade e rapidez experimental. Em seu livro Maquetes de Papel (2007), o mestre sintetiza o gosto pela materialidade aos estudos físicos.
Vale destacar que junto aos papéis ora citados, alguns materiais adicionais são utilizados, como é o caso do acetato, para a representação de folhas de vidro.
 

MAQUETES DE MADEIRAS

 
Madeira balsa
 

Madeira balsa

Finalidade: Estudo volumétrico e de detalhes construtivos

Porque utilizar: Diferentemente dos modelos produzidos a partir de papéis, as maquetes produzidas utilizando madeiras permitem maior resistência e nível de detalhamento superior, uma vez que possibilita a representação de detalhes e técnicas construtivas.
 

Residência Itahye / Apiacás Arquitetos

Dentro da família de madeiras específicas ao desenvolvimento de maquetes, a balsa é aquela que possivelmente apresenta maior empregabilidade e facilidade em trabalhar. Dispensando fresas CNC e materiais de corte sofisticados, pela baixa espessura permite corte por estilete e fácil junção das superfícies por cola de madeira ou branca.
 

Micasa Volume C / Studio MK27

Indo além das chapas planificadas, há ainda uma gama de peças em detalhes construtivos de escala reduzida, como perfis de viga e pilares metálicos em “H”, por exemplo, disponíveis do mercado.

Pela versatilidade, muitos estúdios utilizam o sistema de modos múltiplos, de maquetes volumétricas a modelos com a possibilidade de serem abertos e observarmos as soluções construtivas em seus interiores, tridmensionalizado os desenhos (plantas e cortes) a priori concebidos.
 

 

O material também apresenta excelente propriedade para o detalhamento de curvas de nível que quando empilhadas uma a uma, apresentam ótimas condições finais. Mas, para o corte com precisão, torna-se indispensável o uso de máquina CNC de corte a laser ou uma ótima oportunidade para testar suas habilidades com o estilete.

Os acabamentos são variáveis, de simples lixamento das superfícies até pinturas, buscando de destacar determinados volumes. De maneira pratica, pense numa maquete representando a escala da cidade ou das adjacências de determinado edifício. Se realizarmos a mesma no tom original da madeira e pintarmos o edifício tratado, o mesmo será destacado, dispensando legendas adicionais.

 

 

MAQUETES EM ESPUMA

 
Foam
 

Foam

Finalidade: Estudo volumétrico

Porque utilizar: Foam (ou tradicionalmente, espuma) é um material para ensaios volumétricos de rápido manuseio. Com um estilete ou tesoura em uma das mãos e este material na outra, você certamente conseguirá testar dezenas de volumes em poucos minutos. Para aqueles que desejarem realizar os cortes de maneira precisa, poderão contar com o auxílio de uma mesa elétrica cortadora de espuma ou uma caneta cortadora de espuma. 

Numa gama de cores e possibilidade de tingimento também apresentam ótimas condições para a esquematização setorial do objeto projetual.

O sistema é frequentemente utilizado e apresentado por consagrados estúdios como Bjarke Ingels Group (BIG) e OMA.

 

MAQUETES EM PLÁSTICO

 
E.V.A.

 

E.V.A.

Finalidade: Terrenos e topografia

 

 

Porque utilizar: Com baixo custo este material de propriedade plástica é frequentemente utilizado para o desenvolvimento de maquetes topográficas. Com fácil manuseio, basta prender a folha de papel com o desenho impresso e sutilmente recortar a mesma. Por fim, una as camadas e voilà, está pronto!

 

Museu de Arte Contemporânea Lusitânia / Frederico Valsassina Arquitectos

Como dica, vale ressaltar que dependendo da escala, pela baixa espessura, será necessário unir mais de uma camada com o mesmo recorte para atingir a altura final desejada.
Em diferentes escalas, materiais e níveis de detalhamentos, modelos físicos são fundamentais a elucidar a investigação no processo de projeto ao resultado final. Portanto, compilamos 50 maquetes de projetos e propostas já publicadas no ArchDaily para te inspirar. Confira!

 
Disponível em: www.archdaily.com.br/br/903351.Acesso em: 06/10/2018.